O SONHO


Tive um sonho, outro dia,
em que Cristo, finalmente,
veio a segunda vez
com seu Reino esplendente.

Antes da renovação
de todo o mundo criado,
procedeu a um encontro
pessoal com cada amado.

Neste encontro ficaria
claro cada coração
e se reconheceria
o autor da Salvação.

Ansioso dirigi-me
a uma fila para ver
Quem eu desde cedo ouvira
ser o Senhor do viver.

Após uma longa espera,
foi chegando a a minha vez;
senti o peito apertado
e um calor em minha tez.

Antes de adentrar à sala,
recebi a orientação
de prostrar-me ante o Mestre
em alegre adoração.

Ante mim abriu-se a porta
e por ela eu passei;
em seguida ela fechou-se
e sozinho me encontrei.

A iluminar um trono,
logo acendeu-se uma luz.
Sobre ele um belo homem
que reconheci: Jesus!

Mais lindo do eu sonhara,
seu cabelo era louro,
os seus olhos cor do céu,
a coroa puro ouro.

Sua roupa, de tão branca,
parecia até brilhar;
os bordados, magníficos,
de visão a encantar.

Aos pés do formoso homem,
as mais finas iguarias
deram-me água na boca,
como nunca em meus dias.

“É o banquete prometido
nas Sagradas Escrituras,
que ora faz-se Presente,
não mais em Eras Futuras”.

Ao pensar nessa alegria,
vi, então, sentado a um canto,
um jovem moreno e pobre,
co’um olhar de desencanto.

Sua roupa era rota,
simples sandália aos pés;
à frente somente um pão
e uma vela posta ao rés.

“Pobre deste infeliz
que amarga o seu destino.
Deve ter vivido a vida
em pecado e desatino”.

Tornando o meu olhar
para o trono luminoso,
eu prostrei-me, reverente
ante o meu deus garboso.

Houve então uma gargalhada
que arrepiou-me a alma,
tenebrosa, diabólica,
que acabou com minha calma.

Aquele que pareceu-me
dentre os homens o mais belo
transformou-se em Satanás,
que prendeu-me com seu elo.

Ao olhar, desesperado,
a buscar alguma ajuda,
vi no jovem pobre e triste
sua imagem que transmuda:

Era ele o Salvador,
que eu não reconheci,
pois julguei as aparências
e não o amor em si.

Sob mim abriu-se o chão,
num abismo mergulhei.
Felizmente era um sonho
e ao cair acordei.