CASAMENTO NA ROÇA



Acordei e olhei no espelho.
Eu não me reconheci:
um caipira à minha frente
foi a imagem que eu vi.

Nisso ouvi vindo de fora
o barulho de rojões.
Olhando pela janela,
vi quermesse e foliões.

Balões tipo chinezinhos
rumo ao céu iam subindo,
pontilhando como estrelas
a noite que ia surgindo.

O som grave da sanfona
espalhava-se no ar,
misturando-se às vozes
dos casais a conversar.

Homens de chapéu de palha,
com as calças remendadas,
namoravam as mulheres
de cabeleiras trançadas.

No centro do arraial,
um poste com as bandeiras
de São Pedro, Santo Antônio
e São João rente às madeiras.

Os casais se separaram,
duas fileiras formaram;
de frente p’ras namoradas
os homens se colocaram.

A quadrilha começou
e a alegria foi geral.
O ritmo da sanfona
dominou todo o arraial.

Foi então que alguém gritou:
“Vai começar casamento!
Tragam noivo e a noiva!
É chegado o momento!”

Abriu-se a porta do quarto
e uns caipiras adentraram,
me tomando pelos braços
e p’ra fora me levaram.

Todo mundo era sorriso
e eu deixei-me dominar
pela alegria da festa
em que eu ia me casar.

Vi então Maricotinha
linda como uma visão
em seu vestido de chita
tendo um buquê na mão.

O padre usando batina
oficiou a união
minha com Maricotinha,
a quem dei meu coração.

Quando fui beijar a noiva,
tudo desapareceu.
Acordei em minha cama:
a quermesse feneceu.

Fora um sonho tão bonito
em que a festa do passado
das frias noites de junho
tinha entre o povo reinado.

Hoje faz-se festa “cauntri”,
de “caubói” e “ralouim”;
e a da alma brasileira
caminha p’ra um triste fim.

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