LENCINHO BRANCO E LENCINHO VERMELHO


A história que hoje trago
e vou contar a vocês
fala de duas irmãs,
sendo uma só cortez.

Apesar de serem gêmeas,
eram muito diferentes,
não no corpo – parecidas –,
mas em ações e nas mentes.

Uma sempre espevitada,
da cabeça não tirava
um belo lenço vermelho
que seu rosto afogueava.

Outra, calma e obediente,
sempre um lenço branco usava.
Tinha semblante sereno,
jamais fora vista brava.

Gêmeas que eram – idênticas –,
os que de longe a viam,
pelos lenços que trajavam
logo as reconheciam.

A de lencinho vermelho –
como era conhecida –
provocava todo mundo
e vivia aborrecida.

Chamada Lencinho Branco,
irradiava simpatia;
e ao contrário da irmã,
era a imagem da alegria.

Uma festa no castelo
estava p’ra acontecer.
O grande rei convidou
todos a comparecer.

Os pais das gêmeas, no entanto,
tinham na festa funções;
à frente das filhas foram,
lhes dando orientação:

“Vão direto ao castelo,
não percam a direção,
não se desviem da estrada,
a ninguém dêem atenção.

A estrada é segura
para os que caminham nela,
entretanto é perigosa
p’ra quem busca outra ruela”.

Ao chegar então a hora
de partirem as meninas
para a grandiosa festa,
vestiram suas musselinas.

Pela estrada, o brando vento
agitava seus vestidos,
fazendo-as iguais a anjos
alados do céu descidos.

Corria p’ra todo lado
a menina de vermelho,
procurando além da estrada
onde meter o bedelho.

Lencinho Branco a irmã
a cada instante chamava
a caminhar a seu lado,
mas a gêmea nem ligava.

A Vermelho, várias vezes
na densa mata adentrou,
dizendo ter visto algo
que a atenção lhe chamou.

Dessa forma, a teimosa
no caminho foi ficando,
enquanto a prudente irmã
continuou caminhando.

Quando Vermelho avistou
uma festa na clareira,
desviou-se da estrada,
não mais viu sua parceira.

Chegou ao real palácio
a de branco, à hora certa,
e pode entrar tranqüila
pela porta ainda aberta.

Foi recebida com honras
pelo rei e por seus pais,
sentindo uma alegria
que não sentira jamais.

Enquanto isso, na mata
a outra festa corria.
Vermelho então percebeu
que era falsa a alegria.

Tentou voltar para a estrada,
mas alguns a envolviam,
não deixando que se fosse;
com isso, as horas fugiam.

Quando os sol perdeu seu brilho
e a noite foi chegando,
a festa foi encerrada,
espalhou-se todo o bando.

A menina para a estrada
temerosa dirigiu-se
e correu para o palácio.
Nisso o dia extinguiu-se.

Muito aflita e chorando,
chegou ao final da estrada.
Chegara ao real palácio,
que tinha a porta trancada.

E por mais que ela batesse
ninguém ouvir parecia,
mas chegava aos seus ouvidos
o som da vera alegria.

De repente, o terror
a menina dominou:
os terríveis sons da noite
como que a paralisou. 

Envolvida pelas trevas,
sentiu mãos que a agarravam.
Com imensa violência,
para a mata a levaram.

Nas estradas desta vida
há atalhos de aparência.
Escolher outras veredas
sempre tem sua conseqüência.


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